Há noites em que os pesadelos nos importunam de tal forma que parecem mesmo reais. Esta noite sonhei que estava em 1981. As mães obrigavam os filhos a ir à missa e à catequese, as viúvas vestiam-se de preto até morrer, diretores de algumas escolas proibiam saias acima do joelho, os padres aludiam aos deveres de submissão das esposas descritos na Bíblia e a violência doméstica sobre crianças e mulheres era um corretivo necessário à estabilidade familiar, socialmente aceite. O calor e as imagens de Cabul andam a dar-me a volta ao miolo e a provocar-me pesadelos sem sentido. Acordei naturalmente sobressaltado, bebi água e sintonizei-me com a realidade. Não existem razões para alarme para nós porque Cabul é muito longe, André Ventura orienta a sua ação política por inspiração cristã, a NATO saiu e a desmilitarização de forças é sempre um bom sinal. Os movimentos femininos estão quase todos em silêncio, a cultura judaica-cristã é imune ao machismo, os partidos e movimentos de esquerda vieram logo dar vivas ao fim da ocupação imperialista. O sono voltou e uma vez mais um pesadelo: a "pax americana" que todo o mundo civilizado apoiou terminara e com ela a democracia e o respeito pelos direitos humanos. No médio oriente, só numa área igual a do Alentejo, Israel resistia em democracia. Só depois de ler na Bíblia Efésios 5, 21-33 pude voltar ao sono tranquilo. Deus é grande, aquilo não chega cá.
Sejam felizes, enquanto podem
Saudinha
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