Agora que se discute o orçamento, ocorre-me à memória 2003, quando uma apresentadora jeitosa fazia as delícias dos espectadores masculinos ao apresentar o Nuticias na SIC Radical enquanto fazia striptease. Era um daqueles casos em que a forma, ou no caso, as formas, se sobrepunham ao conteúdo. Agora, apesar de as pivôs se parecem cada vez mais com atraentes apresentadoras a lerem teleponto, a forma já não se sobrepõe ao conteúdo, porque nem a forma nem conteúdo tem a nudez necessária. O puritanismo na informação resume-a uma amostra superficial pouco isenta, comentada por políticos freteiros de governantes com consentimento da sociedade avessa ao trabalho com profundidade jornalística. Basta assistir à farsa sazonal da discussão orçamental na televisão que assenta numa crise política artificial e que arrasta toda a comunicação social.
A educação debate-se na base dos resultados, omitem as aprendizagens e o retrocesso salarial dos professores; a economia avalia-se por trimestre, omite-se a estagnação das últimas duas décadas; ao orçamento inventam-se folgas, novos impostos, mais escalões e negam-se a escassez de verbas e o garrote à classe média e aos setores produtivos; a dívida subvaloriza-se por comparação com a Grécia e à Itália, omite-se deliberadamente comparações com os "frugais" da Europa; ao emprego, de acordo com os registros, omite-se todo trabalho precário; no ensino superior gaba-se o aumento de vagas, omitem-se as saídas profissionais dos cursos; à agricultura, vista pelo canudo dos subsídios, omite-se o abandono do interior rural; a corrupção apazigua-se pelos discursos de intenções, omite-se a lentidão e os expedientes burocráticos na justiça; ao SNS de grande alcance demográfico, omitem-se as listas para consultas e cirurgias, o papel dos privados e os que a eles não podem aceder; considera-se boa a baixa criminalidade mas omite-se a falta de condições e a divisão nos serviços de segurança; valoriza-se a igualdade e a distribuição, desvaloriza-se o mérito e a pouca criação de riqueza.
Os
mais exigentes querem boa informação, a verdade nua
e crua, sem interferência política. Jornalismo a sério é tudo ou nada, não é
um estímulo libidinal, uma visão parcial ou simples entretenimento. Uma pivô
atraente que não mostra tudo pode até ser uma boa estratégia de audiências, mas
uma linha editorial que omite informação relevante não é jornalismo é só má
publicidade. Ou então façam uns strips nas notícias em horário nobre.
Pode até ser depravação, mas é sem dúvida mais honesto.
Sejam felizes
Saudinha
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