Olhar para a sociedade portuguesa do seculo
XXI é como ver um filme de época com pelo menos 300 anos. Observam-se as
características físicas e psicológicas dos personagens, os seus trajes
distintos de classe social, o decote guloso dos seios nos vestidos, os belos caracóis
das cabeleiras e os nobres bailes nos palácios, ocultam-se as pulgas, os piolhos,
os odores corporais disfarçados com o abano dos leques e a ausência de casas de
banho. Se considerarmos que hoje, noventa
e oito por cento dos adultos neste país são gente que toma banho regularmente,
então porque é que os outros dois por cento de mal asseados recebem toda a
atenção? Porque é que apenas 10% dos portugueses consideram viver numa
democracia limpa, quando tanta gente se diz asseada e, no entanto, ninguém
ignora o mau cheiro no ar? Provavelmente, habituámo-nos ao odor “fura filas” e
“chico-esperto” e já não sabemos viver sem ele.
Pouco
adianta vociferamos pelos Marqueses deste século, descurando que o chão social onde
impera a falta de higiene coletiva é o mesmo e que se nada for efetivamente
feito as sequelas deste filme malcheiroso não terão nunca um desfecho
definitivo. Não há filmes, nem espelhos que nos confrontem o olfato em toda a
realidade e enquanto não nos predispusermos em primeiro lugar a cuidar da nossa
higiene pessoal, por muito glamorosas que sejam as nossas aparências estaremos
condenados ao bouquet das bactérias, dos fungos e dos parasitas que
alimentamos. Mais recentemente, não esqueço o requinte das fardas Nazis de Hugo
Boss ou o virtuosismo cinematográfico de Leni Riefenstahl nos filmes da
propaganda hitleriana. Onde estava então o odor a morte? Onde Chega hoje o talento
dos nossos narizes?
Sejam
felizes enquanto podem
Saudinha
Para mim o mau cheiro atual impera, por exemplo, na falsa sensação de segurança e equidade da justiça e da legislação portuguesas, bem como na hipocrisia da comemoração do 25 de abril, quando olhamos exatamente para a Constituição Portuguesa e temos a soberana certeza, que algumas leis estão ultrapassadas, desfasadas da nossa realidade, que é imperativa uma revisão constitucional em quase todos os setores e que para isso é preciso coragem e determinação. Isto, para não falar da cada vez maior desigualdade económica e social dos portugueses.
ResponderEliminarÉ por essas e por outras... que a estrebaria vai continuar o produzir a malina costumeira
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