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Ligações Perigosas

Olhar para a sociedade portuguesa do seculo XXI é como ver um filme de época com pelo menos 300 anos. Observam-se as características físicas e psicológicas dos personagens, os seus trajes distintos de classe social, o decote guloso dos seios nos vestidos, os belos caracóis das cabeleiras e os nobres bailes nos palácios, ocultam-se as pulgas, os piolhos, os odores corporais disfarçados com o abano dos leques e a ausência de casas de banho.  Se considerarmos que hoje, noventa e oito por cento dos adultos neste país são gente que toma banho regularmente, então porque é que os outros dois por cento de mal asseados recebem toda a atenção? Porque é que apenas 10% dos portugueses consideram viver numa democracia limpa, quando tanta gente se diz asseada e, no entanto, ninguém ignora o mau cheiro no ar? Provavelmente, habituámo-nos ao odor “fura filas” e “chico-esperto” e já não sabemos viver sem ele.

Pouco adianta vociferamos pelos Marqueses deste século, descurando que o chão social onde impera a falta de higiene coletiva é o mesmo e que se nada for efetivamente feito as sequelas deste filme malcheiroso não terão nunca um desfecho definitivo. Não há filmes, nem espelhos que nos confrontem o olfato em toda a realidade e enquanto não nos predispusermos em primeiro lugar a cuidar da nossa higiene pessoal, por muito glamorosas que sejam as nossas aparências estaremos condenados ao bouquet das bactérias, dos fungos e dos parasitas que alimentamos. Mais recentemente, não esqueço o requinte das fardas Nazis de Hugo Boss ou o virtuosismo cinematográfico de Leni Riefenstahl nos filmes da propaganda hitleriana. Onde estava então o odor a morte? Onde Chega hoje o talento dos nossos narizes?

https://observador.pt/2021/04/23/sondagem-so-10-dos-portugueses-acham-que-vivem-em-democracia-em-pleno-e-a-pandemia-nao-tem-nada-a-ver-com-isso/?fbclid=IwAR0EyCKgjy1S5buVjCaI4aUAgBTCOAUvwfFKUBds8uQzbWbCLlnAi81T27w

Sejam felizes enquanto podem

Saudinha


Comentários

  1. Para mim o mau cheiro atual impera, por exemplo, na falsa sensação de segurança e equidade da justiça e da legislação portuguesas, bem como na hipocrisia da comemoração do 25 de abril, quando olhamos exatamente para a Constituição Portuguesa e temos a soberana certeza, que algumas leis estão ultrapassadas, desfasadas da nossa realidade, que é imperativa uma revisão constitucional em quase todos os setores e que para isso é preciso coragem e determinação. Isto, para não falar da cada vez maior desigualdade económica e social dos portugueses.

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  2. É por essas e por outras... que a estrebaria vai continuar o produzir a malina costumeira

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